O que era o Drex
Drex é o projeto do Banco Central para criar o Real Digital — uma moeda digital emitida pelo Estado, com lastro no real, funcionando como versão eletrônica da cédula física.
Desde 2023, o Drex passava por fase-piloto, utilizando tecnologia de registro distribuído (DLT), baseada na blockchain Hyperledger Besu. A ideia era permitir pagamentos instantâneos, tokenização de ativos, liquidação de operações financeiras e maior eficiência às transações no sistema financeiro.
O objetivo de longo prazo: transformar o sistema financeiro brasileiro por meio de uma infraestrutura digital moderna, interoperável e capaz de suportar ativos tokenizados, contratos inteligentes e novos negócios.
Por que o BC desligou a plataforma atual
A infraestrutura usada até agora para o Drex, baseada em blockchain (Hyperledger Besu), apresentou falhas importantes de privacidade, segurança e escalabilidade, que impediram o atendimento dos requisitos regulatórios para operações financeiras em larga escala.
Os custos de manutenção, compliance e infraestrutura foram considerados muito elevados e pouco compatíveis com a robustez exigida para o sistema financeiro nacional.
Mesmo após duas fases de piloto, os testes não comprovavam resultados satisfatórios do ponto de vista técnico — o chamado “trade-off” entre privacidade, rapidez e funcionalidade (smart contracts, tokenização, liquidez) mostrou-se inviável nessa configuração.
O que muda — e quais são os próximos passos do Drex
A partir da declaração oficial do desligamento, a plataforma usada até agora (blockchain/DLT) será desativada.
O projeto não está encerrado: o BC vai desenvolver uma nova infraestrutura para o Drex, com desenho a partir de casos de uso concretos — primeiro definir o que a moeda digital deve fazer, depois decidir a tecnologia.
A nova fase, prevista para começar em 2026, deve priorizar funcionalidades como tokenização de ativos, uso de garantias, liquidação de operações — possivelmente abrindo espaço para soluções mais simples ou híbridas, não necessariamente blockchain.
O foco deixa de ser “moeda digital de rua” (retail CBDC + pagamentos via DREX) e migra para estrutura que dê suporte a ativos, colaterais e tokenização, com integração aos sistemas existentes como PIX ou Open Finance.
O que isso significa para o Brasil, o mercado e usuários
O desligamento sinaliza uma desconfiança institucional sobre a viabilidade imediata da blockchain para um sistema financeiro nacional robusto — pelo menos nas condições testadas.
A tokenização de ativos e a modernização financeira continuam como meta — mas com mais cautela e foco na viabilidade técnica, conformidade e eficiência, não apenas na tecnologia “da moda”.
Para fintechs, bancos, empresas de cripto ou investidores: a decisão abre espaço para soluções alternativas — stablecoins, sistemas híbridos e infraestrutura privada — até que o BC defina a nova versão do Drex.
O cronograma do projeto se estende: a promessa de “Real Digital para todos” foi adiada, e a expectativa agora é por uma versão mais madura, possivelmente só em 2026 ou além.
O desligamento da plataforma blockchain do Drex mostra que, embora a ambição de modernizar o sistema financeiro brasileiro via moeda digital continue viva, os desafios técnicos, regulatórios e de segurança são complexos. O projeto não morreu — foi recalibrado. O BC parte para uma nova fase: definir primeiro os usos práticos, depois escolher a tecnologia adequada.
Isso representa um recuo da visão original de “moeda digital eletrônica + blockchain + tudo tokenizado” para algo mais pragmático, realista e gradual.
Ricardo Montandon
Especialista em gestão tributária, dedicando-se à liderança de soluções financeiras estratégicas. Sua gestão visa a otimização de recursos, a conformidade legal e o impulso para um crescimento sustentável, reforçando a posição de excelência da empresa no mercado.


